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Planeta em fase de tratamento Imprimir E-mail

 

 

Planeta em tratamento
Fotomontagem: Fernanda Webler
O diagnóstico foi apresentado em fevereiro; os potenciais sintomas e seqüelas, em abril; e os tratamentos e a posologia, hoje. Assim pode-se resumir a divulgação dos três capítulos do 4º Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), que teve o último dessa seqüência de três estudos divulgado nesta sexta, 4 de maio, em Bangcoc, Tailândia. Além da prescrição de formas de mitigar o problema, o novo documento traz também informação ainda mais determinante: o custo - econômico e político - do tratamento.

Às 13h locais (3h, horário de Brasília), o IPCC, instância da ONU responsável pelas pequsisas sobre o clima, apresentou as conclusões do terceiro da série de estudos que compõem o seu 4º Relatório de Avaliação. Os outros dois foram apresentados em fevereiro e abril e diziam respeito, respectivamente, às bases científicas da pesquisa sobre mudanças clmáticas e aos impactos e formas de adaptação.

Este último capítulo - com o tema Mitigação - apresenta estratégias e meios para começar, já, a combater o problema, antes que os impactos sejam tão profundos que não se consiga mais sanar. O presidente do IPPC, o indiano Rajendra Pachauri, abriu a cerimônia de apresentação lembrando que entre 1970 e 2004 houve um crescimento de 70% nas emissões de gases que causam o efeito estufa (GEE). E afirmou ser esta última etapa do relatório "contundente em sua relevância". Participaram ainda da apresentação do documento os co-coordenadores do grupo de trabalho sobre Mitigação Ogunlade Davidson, de Serra Leoa, e o holandês Bert Metz.

Em poucas palavras, o relatório avisa que é preciso agir logo. Quando mais rápido se começar a reduzir ou estabiizar as emissões de carbono, menos graus vai subir a temperatura do planeta. Numa das tabelas das 35 páginas do documento, estima-se que, se as ações de mitigação forem feitas intensamente entre agora e 2015, é possível diminuir de 50% a 85% as emissões de CO2 até 2050.

As ações podem se dar nos mais diferentes setores - energia, transportes, construção, indústria, agricultura, florestas e lixo -, mas o principal, a curto prazo, é mesmo o de energia. O que se propõe e pede é a eficiência energética: produzir e usar da melhor forma possível e sem desperdício a energia que já é adotada hoje em dia. No longo prazo - este capítulo do relatório considera longo prazo pós-2030 -, o ideal é mudar as matrizes energéticas de cada país. Ou seja, primeiro se adotam medidas conjunturais. Depois, estruturais.

Cinco pesquisadores brasileiros participaram da confecção deste volume do relatório: Roberto Schaeffer, Emilio La Rovere, José Roberto Moreira, Suzana Kahn Ribeiro e Luiz Gylvan Meira Filho. Os dois primeiros conversaram com a Rets e ambos concordam que a eficiência energética vai ser o principal objetivo a ser perseguido nos próximos anos, apesar de não haver uma panacéia para a questão.

"O uso mais eficiente da energia se reflete em todos os setores da economia. Usamos muito mal a energia. Cerca de 3/4 das emissões mundiais de gases estão ligados ao setor energético", analisa Roberto Schaeffer, do Programa de Planejamento Energético da Coordenadoria de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe), da UFRJ.

Emilio La Rovere acredita que é essencial que haja vontade política no processo de mitigação, para promover pesquisa e desenvolvimento de tecnologias limpas de produção e uso de energia, maior eficiência energética e combate ao desmatamento. "Para isso, as ONGs e a opinião pública devem pressionar a indústria e os governos a usar os instrumentos a seu alcance, como, por exemplo: preços de energia fóssil suficientemente altos para desencorajar seu consumo, padrões de desempenho energético progressivamente mais rigorosos, linhas de crédito para financiamento da introdução de energia limpa e encomendas das instituições do setor público para acelerar a criação de um mercado para energias limpas", enumera.

La Rovere acredita não ser possível reverter completamente a situação, mas sim "limitar o aquecimento global ao mínimo possível (algo entre 2 e 3 graus Celsius), caso sejam adotadas atitudes e medidas do tipo das que mencionei".

Em doses regulares e com a posologia adequada, algumas frentes de ação e políticas públicas podem ajudar a melhorar o estado do planeta: regulação e estabelecimentos de regras; criação de cobranças e taxas específicas; comércio de emissões permitidas de carbono; incentivos financeiros; acordos voluntários; instrumentos de informação; pesquisa e integração de políticas públicas direcionadas a cuidar do clima e políticas mais amplas de desenvolvimento. Tudo isto esta na prescrição do IPCC.

Em nota oficial nesta sexta, a secretária-geral do WWF-Brasil, Denise Hamú, disse que "está na hora de arregaçarmos as mangas e fazermos tudo que podemos. Não dá mais para ficar apenas falando no assunto. O IPCC fez uma 'radiografia' do clima do planeta e nos mostrou o que devemos fazer para deter as mudanças climáticas antes que seja tarde demais. Agora está na hora de pressionar os políticos e mobilizar a sociedade para tomarmos decisões conjuntas e realmente colocar em prática o que se vem discutindo", completa.

Colocar em prática, no entanto, não é fácil. As ações esbarram, antes de tudo, em interesses econômicos e comerciais dos países. Reduzir emissões significa desacalerar a indústria e, dessa forma, a economia. Além disso, significa também fazer alterações na matriz energética: no curto prazo, aumentar a eficiência da geração e do consumo de energia nos diferentes países. E, no longo prazo, modificar essas matrizes para se basearem prioritariamente em energias limpas. E isso tudo é caro: custo de implementação e de criação de escala de novas energias, pesquisas científicas prévias, construção de infra-estrutura etc.

O custo pode ser ainda maior se uma das sugestões principais do IPCC for levada em conta: aumentar o preço dos combustíveis derivados de carbono. "Poliíticas que causem um aumento real ou implícito no preço podem criar incentivos para os produtores e os consumidores investirem significativamente em produtos, tecnologias e processos de pouca emissão de GEE", afirmam os cientistas.

No jogo de forças internacionais, há outras coisas a enfrentar. "Já há o reconhecimento internacional da gravidade e da importância do problema. Neste momento, o problema político que existe é como repartir o ônus de lidar com a questão. Os países em desenvolvimento - China, Índia, Brasil - têm alguma razão ao defender que o problema das mudanças climáticas não é uma coisa que aconteceu hoje, mas se deve ao acúmulo de gases na atmosfera - gases que têm vidas médias de centenas de anos. O problema, então, se deve muito mais às emissões históricas do que às emissões de hoje. Então o ônus de lidar com isso deve ser segundo a responsabilidade histórica de cada país e menos ligado a quanto cada país emite hoje", aponta Schaeffer.

La Rovere, por sua vez, acredita que mudar o posicionamento dos EUA é o principal desafio internacional para frear significativamente o aquecimento global. "O maior desafio atual é mudar a posição do governo norte-americano. Se os EUA vierem a adotar uma posição semelhante à dos países europeus, isto já será um passo significativo rumo à solução do problema", afirma o engenheiro elétrico e pesquisador da Coppe/UFRJ. La Rovere se refere ao compromisso assumido em março deste ano pelos países da União Européia: reduzir em 20% suas emissões de carbono até 2020, podendo subir esta meta para 30%, se outros países desenvolvidos concordarem em se comprometer.

Não tão abstrata quanto os jogos políticos internacionais e mais perto do cidadão comum está uma outra contribuição essencial para minimizar o problema: sessões regulares de reeducação do consumo, assunto que também está no receituário dos cientistas do IPCC. "Mudanças no estilo de vida e nos padrões de comportamento podem contribuir para a mitigação em todos os setores", afirmaram na cerimônia de apresentação do novo documento. Essas mudanças talvez sejam as mais importantes, pois não só vão orientar governantes ao elaborar acordos entre nações e metas de políticas públicas, mas as ações cotidianas de cada pessoa, em casa, no trabalho, no carro etc.

Os olhos do mundo se voltam de novo para o IPCC em novembro, quando será divulgado o relatório síntese do AR4. Pouco depois, em dezembro, os olhares vão apontar para Bali, na Indonésia, onde o documento vai ser a base principal das negociações da 13ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudanças Climáticas. Lá, sim, o mundo vai poder saber se o receituário do IPCC vai se traduzir em tratamento real, com a adoção de compromissos concretos entre os países, e se a sua cura já tem data pra começar.

Maria Eduarda Mattar

fonte: rets

 
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